quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Moby Dick (1851) de Herman Melville – Crítica


 

“Uma boa gargalhada é, porém, uma coisa tão apetecida e quase tão rara como um gesto piedoso.”

 

Moby Dick é um romance histórico já amplamente divulgado e adaptado ao cinema, teatro e até mesmo desenho animado. Por desafio (que mais uma vez, só este ano aceitei) de um professor de mestrado, resolvi dar uma chance a este romance histórico e venho aqui de novo ao blog partilhar as minhas conclusões.

A premissa da história é bastante simples. Um barco baleeiro comandado pelo Capitão Ahab que tem como última ambição matar a misteriosa e mítica baleia branca, que representa um elemento de uma certa divindade. Muitas vezes o tom do romance e das narrações de Ismael (o personagem principal) é sombrio, e alterna com certos momentos de euforia. Na verdade, tal é muitíssimo bem retratado por Herman Melville. A vingança é uma das emoções mais primárias e sombrias do ser humano, que muitas vezes nos conduz a atos irrefletidos e de moralidade duvidosa.

“…nenhum homem pode sentir plenamente a sua própria realidade, excepto de olhos fechados; como se as trevas fossem efetivamente o elemento próprio das nossas essências, sendo a luz mais congénita com a nossa natureza material.”

Fruto também da época e local em que o romance foi escrito, podemos encontrar outros elementos interessantes. A característica mais desafiante da leitura desde livro é certamente a descrição da indústria da caça à baleia, que em tempos foi um importante setor da economia internacional. Por vezes a descrição e as reflexões são exaustivas, mas como qualquer romance histórico, é fascinante de ler e presenciar com a nossa imaginação uma realidade de uma vida dura, solitária e nem sempre recompensadora que não há muitos anos muitos dos nossos antepassados enfrentaram.

Moby Dick representa também o elemento de divindade e tentativa de superação humana do divino, o que é também o marco da literatura do século XIX de uma alternância de um pensamento e mentalidade teocentrado para centrar no homem. O que achei interessante quanto ao final, e aqui adicionando um certo elemento de localização no espaço do livro, acredito que o final seria diferente se fosse escrito por um escritor europeu da época. Melville não ignora as suas raízes americanas, cujo país foi fundado por uma base populacional altamente conversadora, tendo com isso influenciado o desfecho, arrisco-me a dizer.

“Todos os homens vivem rodeados de linhas de baleias. Todos nascem com cordas em volta do pescoço; é apenas quando se encontram perante uma morte súbita e rápida que os mortais percebem os perigos silenciosos, subtis e sempre presentes da vida. E se vós sois filósofos, embora sentados numa baleeira, não sentireis no vosso coração mais terror do que se vos encontrásseis sentados diante do fogo da lareira, com um atiçador e não com um arpão ao alcance da mão.”.

Apesar do desfecho, o livro marca também uma posição e estado de espírito da humanidade em relação à natureza, numa época em que o homem tentava superar de todas as maneiras o natural. Atualmente, em larga medida e sobretudo a partir dos anos 70 do século XX, a postura da Humanidade de certa forma alterou-se de uma fase de superação para conversação do meio ambiente, e penso ser esse o motivo pelo qual o livro me foi recomendado em aula.

Moby Dick está claramente entre os meus livros preferidos e é uma obra que me imagino a reler dentro de uns anos. Recomendo vivamente.

 

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