domingo, 2 de julho de 2023

Tudo o que sei sobre o Amor (2022), Dolly Alderton - Crítica (Ana Luísa Gonçalves)

 



Prólogo: Nada melhor para o regresso ao blog depois de 1 mês de pausa com uma nova pessoa que por própria iniciativa aceitou o convite que lhe tinha feito há uns meses de escrever aqui. A Ana (que carinhosamente chamo Dra. Ana em homenagem às formalidades altamente desnecessárias do meio jurídico) num artigo maravilhosamente escrito, veio trazer a esta página um conteúdo diferente. Algo que a nossa geração (nascidos nos anos 90) facilmente identifica, e algo que é mais vocacionado para as mulheres da minha geração, as tristezas e alegrias do amor que anda a passo com as chamadas dores de crescimento. É inegável o peso que a temática do amor já teve nesta página: não por acaso é um dos temas centrais dos livros que normalmente critico. Mas a Ana, com um novo livro e uma nova abordagem, dá-nos algo com que podemos aprender e compreender melhor o mundo. É com enorme gosto que publico aqui o artigo dela, na esperança de que ela não fique por aqui. Sem mais demoras, o artigo (Luís Araújo).


Após uma ida a uma conhecida livraria da nossa praça, em que nenhum livro parecia chamar muito por mim, acabei por sair de lá com 3 livros. Só mais um dia normal na vida de uma “livrólica”.

Um deles foi “Tudo o que sei sobre o amor” de Dolly Alderton, escolhido por ter gostado muito do seu único livro de ficção “Estás aí?”. Quer isto dizer que o livro sobre o qual vos escrevo é de não ficção.

No início da leitura, comecei por me identificar bastante com a autora, já que ela começa por nos descrever os dias passados no MSN Messenger. Todos aqueles que se aproximam dos 30 têm recordações desta plataforma de contacto e irão rever-se na escrita de Alderton sobre as estratégias utilizadas para, por exemplo, ser notada pela pessoa com quem queríamos falar. Esta identificação com a autora foi especialmente sentida com a frase “eu estou sempre metade na vida, metade numa versão fantástica dela que vivo na minha cabeça”.

Com o desenrolar da narrativa podemos acompanhar o desenvolvimento da vida amorosa da adolescente Dolly, com todas as aventuras que essa fase da vida pode proporcionar, mas é com a entrada na idade adulta que a autora vive as histórias mais épicas, perigosas e memoráveis, regadas a álcool, pontuadas por drogas e tendo sempre o objetivo de ter a experiência mais inacreditável possível para contar às suas amigas.

Estas histórias têm quase sempre um ponto em comum: um encontro com um homem, esteja ele a 300km ou a 10 minutos de carro, e têm finais tão diversificados como um pedido de casamento no aeroporto ou um convite para um ménage a trois. 

Ao longo do livro vamos tendo a perspetiva da autora sobre tudo o que sabe sobre o amor desde a adolescência até aos 30 anos, vários capítulos intitulados “Diários dos maus encontros”, outros denominados “As crónicas das festas foleiras”, e-mails-convite que ironizam eventos sociais tais como a despedida de solteira ou o baby shower e até receitas – gostei especialmente da “Sole Meunière para sedutoras” que termina com o seguinte parágrafo: “Servir acompanhado de uma salada verde ou com feijão verde e batata assada (não basta servir com um coração grande e aberto.)”, tudo intercalado, para evitar o aborrecimento do leitor – algo impossível com a escrita de Dolly, creio eu.

Mas desengane-se quem acha que este livro é apenas sobre amores e desamores com as pessoas por cujo género a autora se sente atraída. Este livro é uma ode à amizade com as mulheres com quem partilha a vida. Ao lê-lo entendemos que o verdadeiro amor na vida de Dolly é protagonizado pelas suas amigas, fiéis companheiras que a seguram e a quem ela segura. Juntas passam pelo período conturbado que é a vida em geral, apoiando-se sem reservas.

Neste livro encontramos também a reflexão da autora sobre a passagem inexorável do tempo, a juventude que vai e não volta. A autora partilha que gostava de voltar aos 21 anos com a sabedoria que tem perto dos 30 e acrescenta que a juventude é desperdiçada nos jovens. Concordo em certa medida. De facto, vivemos os nossos vintes sem saber exatamente como vivê-los. Estamos a aprender sobre nós, sobre o que nos rodeia, não sabemos ainda bem que caminho seguir. É o período da nossa vida em que temos mais vitalidade, e gastamo-la muitas vezes em dramas que, aposto, daqui a uns anos só nos farão rir. Mas é como sentimos que os devemos viver e respeitar-nos é, no fundo, o mais importante. 

Em suma, Alderton, numa partilha sincera, generosa e pautada por um sentido de humor acutilante, dá-nos a sua visão da vida numa obra que me permitiu estabelecer comparações, paralelismos, identificar-me, sorrir e comover-me, sem conseguir parar de a ler. 


Sem comentários:

Enviar um comentário